Protestos pela autonomia
Hong Kong busca identidade, mas China tem outros interesses
A série de protestos em Hong Kong reiniciados em junho desse ano tiveram como motivo inicial combater o projeto de lei que permitiria cidadãos honcongueses de serem extraditados e julgados pelo judiciário chinês, diferente do sistema presente no território autônomo. O projeto já foi arquivado pela ministra-chefe Carrie Lam, entretanto as manifestações continuam. Para Antony Dapiran, autor de “Cidade de protesto: uma história recente da dissidência em Hong Kong”, as manifestações têm uma forte ligação com a identidade honconguesa, vista como única e diferente do restante da China.
De acordo com uma pesquisa de opinião divulgada pela Universidade de Hong Kong, mais da metade da população se identifica como honconguês, enquanto cerca de 10% como chinês. Essa diferença é vista de forma mais intensa entre os jovens, os mais presentes nas passeatas. A Região Administrativa Especial tem autonomia interna, exceto em questões de defesa e política externa, desde 1999, graças a um acordo de duração até 2047. Para a China, o local é essencial como porta de entrada entre o país e o ocidente, já que entre 2017 e 2018, de acordo com cifras oficiais, 80% do fluxo de investimento estrangeiro direto passou por Hong Kong – um total de US$ 99 bilhões.
De acordo com o historiador Filipe Nobre Figueiredo, candidato à admissão na carreira diplomática, em seu podcast “Xadrez verbal”, os anos futuros devem aumentar a discussão: “Essa disputa promete se intensificar nos próximos anos enquanto ainda estiver, do ponto de vista jurídico, algo que embase a autonomia de Hong Kong”.